Tuesday, October 07, 2008

A Bilú Teteia

Por cima da ribeira inclinava-se uma árvare, um coqueiro. SIDARTA encostou o ombro na madeira. Agarrando-se ao tronco, cravou os olhos nas verdes águas que corriam lá embaixo, sempre e sempre. Almejava de todo coração desprender-se, afogar-se naquele rio, em cuja superfície se espelhava um vazio tremendo, qual reflexo do pavoroso vazio da sua propria alma. Sim, ele, SIDARTA, estava no fim. Não se lhe descortinava outra solução que não a de extinguir-se a si mesmo, de quebrar o malogrado molde de sua existência, de jogar os cacos fora, bem longe, aos pés dos deusses que zombavam dele. Sentia que esse era o momento do grande vômito pelo qual ansiara: a morte, a dilapidação da forma odiada! Que os peixes devorassem o corpo de SIDARTA, desse cão, desse louco, que engolissem seu cadáver depravado, podre, essa alma langorosa... Quem lhe dera ser comido por peixes e crocodilos, ser dilacerado pelos demônios! Com o rosto crispado, fitava as águas. Contemplou a sua fisionomia no espelho e cuspiu nela. Terrivelmente fatigado, soltou a árvore. Empertigou-se um pouco, a fim de lançar-se numa queda vertical que o levasse ao acaso definitivo. Com os olhos cerrados, deixou-se cair, rumo a morte. Nesse momento, um som começou a vibrar nele, vindo de longínquas regiões da sua alma, de épocas passadas da sua existência gasta.

No comments: