Thursday, February 05, 2009

Discurso p/ posse.Complexo

Que floresça a primavera, que o broto nasça! há uma pereira no alto da montanha. Jorram fontes, caem gotas. O Ródano porém corre profundo e célere, precipita-se por sob as arcadas e arrasta as folhas que boiavam sobrando, lançando sombras nos peixes prateados, nos peixes malhados impelidos ao fundo pelas águas velozes e ora puxados por um redemoinho para - como é difícil isso - a conglomeração de todos num poço; peixes que saltam, que espadanam, que afiam suas nadadeiras cortantes; e tal a agitação da corrente que o seixos amarelos rolados vão se tornando cada vez mais redondos, roliços, rotundos - livres agora, quando se precipitam ao fundo, ou mesmo ascende de algum modo no ar em espirais primorosas; que se enrolam, como aparas tiradas por uma plaina; e não param de subir. Como é bela a bondade em quem, pisando de leve, passa sorrindo pelo mundo. Etambém em velhas e animadas peixeiras que se agaxam debaixo das arcadas, riem às gargalhadas, sacudindo-se a mais não poder. O riod a melancolia nos leva. Quando a lua penetra por entre os ramos pendentes do salgueiro, vejo seu rosto, ouço sua voz e os passarinhos cantando ao passarmos pelo canteiro de vime. O que dizem ses murmúrios? Aflição, aflição. Alegria,alegria. Trançadas juntas, inestricavel/e mescladas, ligadas pela dor e juncadas de sofrimento - até se romper! O barco afunda. Soerguendo-se, as figuras ascendem, mas finas como folhas agora, e gradualmente se reduzem a um nevoento espectro que, com as extremidades em fogo, arranca-me do coração sua paixão dobrada. Para mim ele canta, deslacra minha dor, induz à compaixão, inunda de amor o mundo sem sol, não reprime, cessando, sua ternura mas ágil sutilmente tece para dentro e para fora, até que neste padrão, nesta consumação, venha unificar as fendas; voar soluçar, afundar em repouso, aflição e alegria. Eu levava as luvas comigo com a impressão de estar levando meu corpo. Há muito pouco a ser dito após um movimento lento de Mozart. Juntos fomos ao fundo, quando a útima ondulação cede a uniformidade, despertamos, lembramos, cumprimentamo-nos - Mas eu não sei. É mais simples do que isso, mais inteiro; mais intenso oh, muito mais intenso! Todos os nervos não estão ainda vibrando, como se o arco tivesse tocado neles? Não ficamos meio fora do corpo e meio fora da mente, ainda instados à soltura, a dançar livres, e surpreendidos quando a música para, longe de casa?Mas há apenas um movimento mais, e assim, pelo amor de Deus, olhe para tudo, os rostos, os móveis, os quadros na parede, olhe pela fresta da cortina e veja o galho à luz da lâmpada. Junte todos os fragmentos deste belo e emocionante universo. Ouça; comunique-se.

Como - como - como!

É a velha mrs.Munro, sentindo que está no fim - cada ano mais cega coitada - neste piso escorregadio. Velhice sem olhos, esfinge de cabeça grisalha... Lá está ela na calçada fazendo sinal, na maior austeridade, para o ônibus vermelho. "Como foi bom! Como eles tocam bem! Como - como - como!" A lingua não passa de uma matraca. A própria simplicidade. As penas do chapéu a meu lado são reluzentes e deleitam como um matraquear de crianças. A folha do plátano cintila verde pela fresta da cortina. Muito estranho, muito emocionante.